Por Canal Autismo
O conceito de neurodiversidade, que surgiu na década de 1990, tem transformado a compreensão científica e social sobre condições como autismo e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Esse movimento valoriza as diferenças cerebrais e promove a inclusão, desafiando a visão tradicional de que essas condições precisam ser “curadas”. De acordo com uma reportagem do jornal The Guardian, do Reino Unido, publicada nesta sexta, a prevalência de autismo e TDAH dos britânicos tem aumentado significativamente, não devido a um crescimento real dos casos, mas por mudanças nos critérios diagnósticos e maior conscientização. A neurodiversidade, que tem claras semelhanças com a biodiversidade, defende a validade das diferenças neurológicas, reconhecendo que uma maioria neurotípica pode coexistir com indivíduos neurodivergentes.
Cerca de 1% da população do Reino Unido é diagnosticada com uma condição do espectro do autismo, enquanto aproximadamente 4% têm TDAH. Essas condições, junto com dislexia e dispraxia, são consideradas transtornos do neurodesenvolvimento e muitas vezes se sobrepõem. No passado, a prevalência registrada era bem menor, com médicos estimando que apenas quatro a seis pessoas em cada 10.000 tinham autismo. Hoje, acredita-se que 1-3% da população mundial seja autista. O aumento significativo nos diagnósticos reflete tanto uma maior conscientização quanto mudanças nos critérios diagnósticos. Anteriormente, o autismo era definido por “grandes déficits” em interação social e desenvolvimento da linguagem; agora, a definição inclui “déficits persistentes” em comunicação social e comportamentos repetitivos.
Mais neurodivergentes na ciência
Essa mudança na percepção e abordagem das condições neurodivergentes tem levado a uma maior participação de pessoas neurodivergentes na pesquisa científica, influenciando a linguagem e as prioridades dos estudos. A pesquisa agora inclui mais contribuições de indivíduos neurodivergentes, focando em melhorar aspectos como ansiedade, depressão e distúrbios do sono associados ao autismo, ao invés de buscar “curas”. Além disso, o modelo social da deficiência sugere que muitas dificuldades enfrentadas por pessoas neurodivergentes são resultantes da fricção com um mundo predominantemente neurotípico, e não de falhas inerentes ao indivíduo. Dessa forma, a sociedade deve se adaptar para ser mais inclusiva e acolhedora.
Geneticistas acreditam que até 80% das causas de autismo e TDAH podem ser atribuídas a fatores genéticos, embora os fatores ambientais (intrauterinos) também desempenhem um papel importante. Estudos têm investigado as ligações entre autismo e fatores como idade avançada dos pais, complicações no parto e infecções durante a gravidez. No caso do TDAH, fatores como exposição ao chumbo, consumo de álcool e tabaco durante a gestação, nascimento prematuro e lesões cerebrais são considerados. Essas pesquisas buscam entender melhor a variação dentro do espectro autista e do TDAH, identificando variações genéticas que afetam os neurônios e sua comunicação.
Adaptações na educação
A conscientização a respeito de autismo e TDAH tem promovido adaptações importantes em diversos ambientes, especialmente na educação. Estratégias como o uso de cronogramas visuais, timers para transições suaves e o reconhecimento das sensibilidades dos alunos têm se mostrado benéficas. Essas adaptações não só auxiliam crianças neurodivergentes, mas também beneficiam todos os alunos. Para melhorar a qualidade de vida das pessoas com TDAH, é fundamental um bom ambiente, que inclua relacionamentos positivos e apoio na saúde mental, como destaca Dr. Max Davie. A compreensão e modificação das atitudes e do ambiente são essenciais para apoiar pessoas neurodivergentes, ajudando-as a prosperar.