

Maria Clara Piranda
Diretora do Núcleo de Desenvolvimento Neuropsicomotor
Paralisia cerebral (PC) refere-se a um grupo de distúrbios no desenvolvimento do controle motor e da postura, que ocorrem como resultado de um comprometimento não progressivo do sistema nervoso central em desenvolvimento. Os distúrbios motores da paralisia cerebral podem ser acompanhados por distúrbios sensoriais, cognitivos, de comunicação, de percepção e/ou de convulsões.
O que é a paralisia cerebral?
A paralisia cerebral não é uma doença, mas sim um grupo de distúrbios que afetam a capacidade da pessoa de se mover e manter o equilíbrio. Ela ocorre devido a anormalidades no desenvolvimento cerebral ou a danos cerebrais precoces, que impactam a capacidade do cérebro de controlar músculos e coordenação motora.
Os tipos de paralisia cerebral incluem:
Paralisia cerebral espástica
O tipo mais comum, caracterizado por músculos rígidos e movimentos descoordenados.
Paralisia cerebral discinesia
Marcada por movimentos involuntários e incontroláveis.
Paralisia cerebral atáxica
Afeta o equilíbrio e a coordenação motora, dificultando movimentos precisos.
Paralisia cerebral mista
Combinação de diferentes tipos, com sintomas variados.
Topografia:
A topografia da paralisia cerebral refere-se à distribuição das partes do corpo afetadas. Em outras palavras, indica quais membros (braços e pernas) são comprometidos. Essa classificação é usada junto com o tipo clínico (espástica, atáxica, etc.) para descrever o quadro de forma mais completa.
Aqui estão os principais tipos de topografia:
Hemiplegia / Hemiparesia
Afeta um lado do corpo (direito ou esquerdo).
Normalmente, o braço é mais afetado que a perna.
É comum em lesões unilaterais no cérebro.
Diplegia / Diparesia
Afeta principalmente as duas pernas, com os braços menos comprometidos ou normais.
Tetraplegia / Tetraparesia (também chamada de quadriplegia/quadriparesia)
Afeta os quatro membros (ambos os braços e pernas).
Geralmente, os braços são tão ou mais comprometidos que as pernas.
Associada a casos mais graves e com maior risco de outras comorbidades (como epilepsia ou deficiência intelectual).
Monoplegia / Monoparesia
Afeta apenas um membro (geralmente um braço ou uma perna).
É um caso raro, geralmente resultado de uma lesão cerebral mais localizada.
Triplegia
Afeta três membros (ex: dois braços e uma perna ou duas pernas e um braço).
É menos comum e pode ser considerada uma forma intermediária entre diplegia e tetraplegia.
Tipos clínicos, topografias mais comuns e características principais
Tipo clínico: Espástica.
Topografias mais comuns: Hemiplegia, Diplegia, Tetraplegia.
Características principais: Rigidez muscular (espasticidade), movimentos difíceis, aumento do tônus muscular.
Tipo clínico: Discinética.
Topografias mais comuns: Tetraplegia (mais comum), Hemiplegia.
Características principais: movimentos involuntários, flutuação do tônus muscular (hipertonia e hipotonia).
Tipo clínico: Atáxica.
Topografias mais comuns: pode variar, geralmente Tetraparesia leve ou Monoparesia.
Características principais: falta de coordenação, equilíbrio prejudicado, tremores intencionais.
Tipo clínico: Mista.
Topografias mais comuns: combinada: geralmente Espástica + Discinética (Tetraplegia).
Características principais: mistura de sintomas (ex: rigidez + movimentos involuntários), quadro mais complexo.
Sintomas da paralisia cerebral
Os sintomas da paralisia cerebral variam de pessoa para pessoa e podem mudar ao longo do tempo. Os sinais mais comuns incluem:
Dificuldade no controle muscular: movimentos descoordenados ou espasticidade.
Atrasos no desenvolvimento motor: dificuldade em alcançar marcos motores como sentar, engatinhar ou andar.
Dificuldade na fala e comunicação: algumas crianças podem ter dificuldades para falar ou expressar emoções.
Problemas na deglutição: dificuldade para mastigar ou engolir alimentos.
Distúrbios do tônus muscular: rigidez ou fraqueza nos músculos.
Convulsões e epilepsia: algumas crianças com paralisia cerebral podem apresentar crises epilépticas.
Problemas visuais e auditivos: algumas formas de paralisia cerebral podem estar associadas a dificuldades na visão e audição.
Os sintomas podem ser percebidos logo nos primeiros meses de vida, mas alguns sinais podem se tornar mais evidentes conforme a criança cresce.
Diagnóstico da paralisia cerebral
O diagnóstico da paralisia cerebral é clínico e pode envolver uma série de exames para avaliar o desenvolvimento motor e neurológico da criança. O médico pode solicitar:
Exames de imagem: ressonância magnética ou tomografia computadorizada para avaliar danos cerebrais.
Eletroencefalograma (EEG): para verificar a presença de atividade epiléptica.
Avaliações motoras e neurológicas: testes para analisar reflexos, tônus muscular e coordenação.
Exames genéticos e metabólicos: para descartar outras condições.
Tratamentos para paralisia cerebral
Embora a paralisia cerebral não tenha cura, diversos tratamentos podem melhorar a qualidade de vida. O tratamento deve ser individualizado e pode incluir uma abordagem multidisciplinar.
Fisioterapia
A fisioterapia é essencial para melhorar a mobilidade, fortalecer os músculos e ajudar na independência funcional.
Terapia Ocupacional
Essa abordagem auxilia na realização de atividades do dia a dia, como se alimentar, se vestir e segurar objetos, promovendo mais autonomia para a pessoa com paralisia cerebral.
Fonoaudiologia
A fonoaudiologia é indicada para aqueles que apresentam dificuldades na fala, na comunicação e na deglutição, ajudando no desenvolvimento da linguagem e na alimentação segura.
Uso de medicamentos
Medicamentos podem ser prescritos para controlar espasmos musculares, rigidez e convulsões.
Cirurgias
Em alguns casos, procedimentos cirúrgicos podem ser recomendados para corrigir deformidades ósseas, reduzir a espasticidade ou melhorar a postura.
Terapias alternativas
Métodos como equoterapia e musicoterapia podem ajudar no desenvolvimento motor e emocional, promovendo bem-estar e estímulo sensorial.
Tecnologias assistivas
Dispositivos como cadeiras de rodas adaptadas, órteses, softwares de comunicação e equipamentos para facilitar a mobilidade são fundamentais para promover inclusão e independência.
Como apoiar uma pessoa com paralisia cerebral
O apoio da família e da sociedade é fundamental para garantir qualidade de vida e inclusão para pessoas com paralisia cerebral. Algumas medidas importantes incluem:
Acesso à educação inclusiva: escolas adaptadas e professores capacitados são essenciais para o desenvolvimento acadêmico e social.
Estimulação precoce: intervenções desde a infância ajudam a melhorar as habilidades motoras e cognitivas.
Ambiente acessível: adaptações em casa e nos espaços sociais promovem mais autonomia.
Suporte emocional: grupos de apoio e terapia psicológica são importantes para o bem-estar da pessoa e de sua família.
Com o suporte adequado, pessoas com paralisia cerebral podem se desenvolver e ter qualidade de vida. O diagnóstico precoce e a abordagem terapêutica multidisciplinar são essenciais para promover mais independência e inclusão.
O conhecimento sobre a paralisia cerebral é fundamental para combater preconceitos e garantir um mundo mais acessível e acolhedor para todos.
Com os avanços da ciência e da tecnologia, novas oportunidades estão surgindo para melhorar a vida das pessoas com paralisia cerebral e suas famílias.