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Autismo, TDAH e T-21: projeto social de ballet faz meninas sonharem com dança profissional

Por Monique Faria

Trata-se de um projeto em Campo Grande, MS. Chamado Bassetto Ballet, há uma década oferece aulas de ballet clássico, contemporâneo e Jazz para crianças de 3 a 15 anos, que não possuem condições financeiras de arcar com aulas particulares. O projeto já atendia crianças com deficiência quando o gestor, Adalton Garcia, se prontificou a acolher as irmãs Maria Clara e Maria Júlia, com autismo e TDAH, que tiveram bolsa de estudos recusada em escola de ballet particular. De acordo com Adalton, quando os membros do projeto viram a matéria num jornal, entraram em contato com a mãe das meninas para oferecer a oportunidade. “As crianças necessitam de algo que falta muito no ser humano hoje, o amor. Então, quando eu vi a matéria, disse logo: aqui elas não vão pagar um centavo, e entrei em contato com a família”, afirma.

Adalton já teve problemas em outros lugares que alugava, por preconceito dos inquilinos com as crianças autistas, e preferiu mudar o projeto de local, a deixar as alunas que atendia. “Uma das crianças que atendíamos tinha autismo severo e não falava, gritava muito no meio das outras crianças. A diretora do espaço convidou a gente a sair e eu disse que sairíamos quando terminasse o contrato. Um dia cheguei para dar aula e estava muito silêncio no local, a menina estava totalmente adaptada. Por incrível que pareça a garota encarou mais de mil pessoas no teatro Dom Bosco, e dançou com a professora. Então é isso, a gente não faz porque somos bonzinhos, a gente faz porque ama”, conta.

Agora, o Bassetto Ballet está funcionando numa associação de moradores. O local foi cedido pelo presidente da associação do bairro, e está passando por reformas, para se adequar à pratica do ballet. “Nós já tínhamos o projeto gratuito aqui aos sábados. Quando eu precisei sair do local que eu alugava, estava com 80 crianças e sem lugar para ir. O presidente da associação disse que poderíamos trazer para cá e iríamos fazer o que fosse preciso”, conta.

No momento, o projeto atende 40 crianças no total, 11 delas com deficiência. “São crianças com autismo, TDHA e síndrome de Down”, diz o gestor. A madrinha do projeto, Cecilia Bassetto, é formada pela Escola de Teatro Bolshoi e, mesmo não morando em Campo Grande, vem sempre à cidade para dançar com as crianças, dar feedback e orientações.

Sem patrocinadores

O projeto está sem patrocinadores no momento, e busca parcerias para sobreviver. “Nós temos buscado muita parceria, mas o empresariado não entendeu ainda a necessidade de doar para os projetos sociais”, explica Adalton. A obra da sala de ballet ainda precisa de doações para ser finalizada, como lâminas de telhas, piso de madeira e lâminas de espelhos. “As crianças estão fazendo aula no chão gelado, com o piso de madeira, por exemplo, isolaria o frio. Um bebedouro também ajudaria muito a gente”, explica.

As irmãs Maria Júlia, sete anos, e Maria Clara, quatro anos, conseguiram uma bolsa de estudos em escola particular de Ballet, em Campo Grande. A mãe das meninas, Bárbara Mascarenhas Borba, se apressou para conseguir os materiais necessários para as aulas. Mas, o dia mais esperado, o início nas aulas de dança, virou um pesadelo, pois não conseguiram participar com as outras crianças. Maria Júlia tem hiperatividade e Maria Clara foi diagnosticada com autismo, e a mãe havia avisado previamente à coordenação do curso.  Chegando ao local, mãe e filhas passaram horas aguardando serem chamadas para a aula, mas não deixaram as meninas, nem ao menos, assistirem as outras crianças dançando. “Eles disseram que não sabiam de nada”, conta Barbara.

Horas após a divulgação da história, num jornal local, a frustração se tornou esperança para as irmãs. O projeto Bassetto Ballet ofereceu duas bolsas 100% para as meninas entrarem para o mundo do balé. Maria Júlia e Maria Clara foram as primeiras a iniciarem as aulas de balé, e em seguida a irmã mais nova, Maria Flor, de três anos, que também possui autismo (TEA), se juntou às bailarinas.

De acordo com Barbara, desde que começaram a fazer as aulas, as meninas desenvolveram a comunicação e participação na escola. “Elas não tinham muito contato visual, mas aqui elas estão lidando com pessoas, e isso contribuiu para uma melhora de quase 80% na comunicação delas. Até a ansiedade delas melhorou”, explica. O sonho das meninas já é se tornarem bailarinas profissionais no futuro. “Elas assistem o desenho da bailarina e falam que querem se tornar bailarinas profissionais, e eu falo que elas estão treinando para isso mesmo”, comenta Barbara.

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