

Aline Alves
Diretora Clínica Denver do Núcleo de Autismo
Receber o diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) costuma ser um momento desafiador na vida de uma família. É natural que muitas dúvidas surjam, principalmente em relação às necessidades específicas da criança, ao tratamento mais indicado e às melhores formas de estimular o seu desenvolvimento. Um dos pontos mais importantes, e muitas vezes pouco compreendidos, é o fato de que o autismo pode estar associado a outras condições, conhecidas como comorbidades.
Essas condições não são exceção, mas sim bastante comuns. Elas podem influenciar diretamente no bem-estar da criança, nas suas interações sociais, no desempenho escolar e na rotina familiar. Por isso, reconhecer e compreender essas comorbidades é fundamental para oferecer um suporte mais eficaz e individualizado.
A seguir, vamos explicar quais são as comorbidades mais frequentes no TEA, como elas afetam o desenvolvimento e, principalmente, o que você pode fazer para garantir o melhor acompanhamento para o seu filho. Vamos lá?
O que são comorbidades?
Antes de tudo, vale entender o que significa esse termo. Na área da saúde, é chamado de comorbidade a presença de uma ou mais condições adicionais que ocorrem junto a um diagnóstico principal.
Comorbidades mais comuns no autismo
Transtornos de ansiedade
A ansiedade está entre as comorbidades mais comuns em crianças e adolescentes com TEA, e ela pode se manifestar de diferentes formas.
As manifestações de ansiedade podem interferir no aprendizado, nas interações sociais e até mesmo na aceitação de mudanças na rotina.
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
Outra comorbidade bastante frequente é o TDAH, que se caracteriza por:
Desatenção: dificuldade de manter o foco por longos períodos.
Impulsividade: agir sem pensar nas consequências.
Hiperatividade: necessidade constante de se mover ou falar, mesmo em momentos inadequados.
A presença do TDAH pode dificultar o engajamento nas terapias, o desempenho escolar e a convivência em grupo, exigindo estratégias específicas para manejo comportamental.
Transtorno Opositor Desafiador (TOD)
O TOD, Transtorno Opositivo Desafiador, é caracterizado por um padrão persistente de comportamento desafiador e desobediente, especialmente em relação a figuras de autoridade, como pais e professores. Os sinais mais comuns incluem:
Irritabilidade frequente.
Negativismo constante (dizer “não” para tudo).
Baixa tolerância à frustração.
Esse quadro pode gerar muitos conflitos no ambiente familiar e escolar, prejudicando o convívio e dificultando o processo de aprendizagem.
Depressão infantil
Embora menos falada, a depressão também pode afetar crianças com autismo. Os sintomas incluem:
Tristeza persistente.
Perda de interesse por atividades antes prazerosas.
Isolamento social.
Alterações no sono e no apetite.
Por vezes, esses sinais podem ser confundidos com características do próprio espectro, o que reforça a importância de uma avaliação interdisciplinar cuidadosa.
Distúrbios gastrointestinais
Problemas como constipação, refluxo e dor abdominal são frequentemente relatados por famílias de crianças com TEA. Embora ainda estejam sendo investigadas as causas dessas queixas, sabe-se que elas podem afetar o comportamento, o humor e a disposição para participar das terapias ou atividades do dia a dia.
Distúrbios do sono
O sono é essencial para o desenvolvimento cognitivo, emocional e físico. No entanto, muitas crianças com autismo enfrentam dificuldades para dormir ou manter o sono ao longo da noite. Isso pode causar irritabilidade, fadiga diurna e maior dificuldade de concentração, impactando a qualidade de vida da criança e de toda a família.
Seletividade alimentar
A seletividade alimentar também é comum no espectro autista. Muitas vezes, a criança restringe sua alimentação a poucos alimentos, geralmente por questões sensoriais, como textura, cor, cheiro ou apresentação dos pratos. Essa limitação pode trazer consequências nutricionais e exige acompanhamento especializado para ampliar, gradualmente, a aceitação de novos alimentos.
Por que é importante identificar e tratar as comorbidades?
Cada criança é única, e isso inclui o modo como as comorbidades se apresentam. Muitas vezes, elas podem passar despercebidas ou serem confundidas com manifestações do próprio autismo. No entanto, quando não são devidamente identificadas e tratadas, essas condições podem intensificar os desafios enfrentados no dia a dia.
O diagnóstico e o tratamento das comorbidades permitem:
Maior clareza sobre as necessidades da criança.
Definição de estratégias terapêuticas mais eficazes.
Redução de comportamentos interferentes.
Melhora nas interações sociais e no desempenho escolar.
Mais qualidade de vida para toda a família.
O papel do plano terapêutico individualizado
Diante de tantas possibilidades, a construção de um plano terapêutico individualizado é essencial. Isso significa considerar não apenas o diagnóstico de autismo, mas também todas as outras características que a criança apresenta. Dessa forma, é possível criar uma proposta de intervenção que respeite o ritmo, as necessidades e as potencialidades de cada indivíduo.
No Espaço CEL, esse cuidado é levado a sério e está no centro de tudo o que fazemos. Adotamos um modelo de atendimento interdisciplinar, que integra diferentes especialidades para garantir um olhar amplo, atento e individualizado sobre o desenvolvimento de cada paciente.
No nosso Núcleo de Autismo, oferecemos intervenções baseadas em evidências científicas, como a Terapia ABA e o Modelo Denver, sempre aplicadas de forma personalizada. Cada plano terapêutico é construído de acordo com os objetivos, as necessidades e o perfil único de cada criança ou adolescente, promovendo avanços reais e duradouros.