Aline Alves

Diretora Clínica Denver do Núcleo de Autismo

Você já ouviu falar sobre reforçadores? Talvez o nome pareça técnico à primeira vista, mas a verdade é que esse conceito está muito mais presente no nosso dia a dia do que imaginamos, principalmente quando falamos sobre apoiar o desenvolvimento de crianças com autismo.

Entender como utilizar os reforçadores pode ser um divisor de águas na rotina e no aprendizado do seu filho. Eles são ferramentas simples, mas extremamente eficazes, que podem transformar situações desafiadoras em momentos de crescimento, vínculo e conquistas. A seguir, vamos explicar o que são reforçadores, quais são os tipos mais comuns e, o mais importante, como utilizá-los na prática.

O que são reforçadores?

Reforçadores são recompensas planejadas para incentivar ou manter um comportamento desejado. Em outras palavras, são estímulos positivos oferecidos logo após uma ação para aumentar a chance de que aquele comportamento se repita no futuro.

É importante destacar que reforçadores não são “prêmios aleatórios”, mas sim recursos estrategicamente usados para ensinar, motivar e apoiar o desenvolvimento de habilidades. Quando bem utilizados, ajudam a criar uma relação mais leve e produtiva com tarefas do dia a dia, favorecendo a autonomia e o bem-estar da criança.

Esses estímulos podem variar bastante de criança para criança, afinal, cada indivíduo tem suas preferências, interesses e formas de se motivar. Por isso, observar com atenção o que desperta alegria, curiosidade ou entusiasmo no pequeno é o primeiro passo para identificar bons reforçadores.

Tipos de reforçadores: tangíveis e sociais

Existem diferentes formas de reforçadores, que podem ser agrupadas principalmente em duas categorias: tangíveis e sociais. Conhecer essas classificações ajuda a escolher a melhor estratégia para cada momento e necessidade.

Reforçadores tangíveis

São itens físicos que a criança gosta ou deseja. Exemplos comuns incluem:

  • Brinquedos preferidos

  • Lanches ou alimentos específicos

  • Objetos sensoriais

  • Figurinhas, livros ou itens colecionáveis

Esses reforçadores costumam ser muito eficazes, especialmente nos estágios iniciais do ensino de uma nova habilidade. Eles geram uma motivação imediata e clara para a criança, facilitando a associação positiva com a atividade realizada.

Reforçadores sociais

São interações afetivas e positivas que valorizam o comportamento da criança. Entre os exemplos, podemos citar:

  • Elogios verbais (“Muito bem!”, “Parabéns!”, “Você conseguiu!”)

  • Carinho físico, como abraço, beijo ou cócegas (caso a criança goste e aceite esse tipo de contato)

Os reforçadores sociais são importantes porque estimulam o vínculo entre a criança e o adulto, além de serem mais práticos de usar no dia a dia. Com o tempo, é possível ir substituindo os reforçadores tangíveis por reforços sociais, o que torna o processo mais natural e sustentável.

Como usar os reforçadores na rotina?

A aplicação dos reforçadores não precisa — e nem deve — estar restrita a ambientes clínicos. Eles podem ser incorporados no cotidiano da criança, seja em casa, na escola, em passeios ou em outros espaços de convivência.

A seguir, veja um exemplo prático de como fazer isso:

Imagine que seu filho resiste bastante na hora de escovar os dentes. Essa é uma situação comum, que pode gerar estresse tanto para a criança quanto para os adultos. Nesse caso, uma boa estratégia é oferecer um reforçador tangível após a tarefa ser concluída: por exemplo, permitir que ele brinque com um brinquedo que adora por alguns minutos.

Com o tempo, quando a escovação se tornar mais aceita e rotineira, você pode começar a substituir esse brinquedo por um reforçador social, como um elogio (“Você escovou direitinho, estou orgulhoso!”) ou uma brincadeira divertida juntos.

Essa transição dos reforçadores tangíveis para os sociais é chamada de “desvanecimento do reforço” e faz parte do processo de tornar o comportamento aprendido mais espontâneo e duradouro.

Outra dica importante é oferecer o reforçador logo após o comportamento desejado, para que a criança consiga associar claramente a ação ao estímulo positivo. Além disso, é fundamental manter a consistência e evitar reforçar comportamentos indesejados por engano.

Reforçadores não são “mimos”, são estratégias de ensino

Muitas vezes, familiares se perguntam se estão “mimando” demais a criança ao usar reforçadores. Mas é importante lembrar que esses recursos fazem parte de uma estratégia de ensino baseada em evidências. Não se trata de ceder a vontades aleatórias, mas sim de usar motivações pessoais da criança para ensinar comportamentos importantes e funcionais.

Assim como os adultos se sentem motivados ao receber reconhecimento no trabalho ou recompensas por conquistas, as crianças também se engajam mais quando percebem que seus esforços são valorizados.

E no caso de crianças com autismo, que muitas vezes têm dificuldades de comunicação ou enfrentam desafios sensoriais, os reforçadores ajudam a tornar o aprendizado mais claro, acessível e recompensador.

Pequenas mudanças, grandes resultados

Incorporar o uso de reforçadores na rotina é uma atitude simples que pode gerar grandes transformações. Eles ajudam a criança a entender o que se espera dela, aumentam a motivação para aprender e fortalecem a conexão com os adultos que a apoiam.

Mais do que uma técnica, o reforço positivo é uma forma de construir relações baseadas em confiança, respeito e valorização. E isso faz toda a diferença no desenvolvimento de qualquer criança.

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