Aline Alves

Diretora Clínica Denver do Núcleo de Autismo

Quando o assunto é o desenvolvimento infantil, especialmente nos primeiros anos de vida, a identificação precoce de sinais de atraso e a intervenção adequada podem fazer toda a diferença no futuro da criança.

O Modelo Denver de Intervenção Precoce (Early Start Denver Model – ESDM) é uma das abordagens mais eficazes para o atendimento de crianças com diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA).

O que é Modelo Denver de Intervenção Precoce?

O Modelo Denver de Intervenção Precoce (ESDM) é uma abordagem terapêutica naturalística e intensiva, projetada para promover uma intervenção precoce completa em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), com idade entre 1 a 4 anos, podendo se estender até os 5 anos.

Desenvolvido por Geraldine Dawson e Sally Rogers, este modelo combina princípios da Análise do Comportamento Aplicada (ABA), junto a outros modelos e abordagens, a fim de estimular habilidades sociais, linguísticas, emocionais e cognitivas.

Bases teóricas do Modelo Denver de Intervenção Precoce

O Modelo Denver de Intervenção Precoce é fundamentado em várias teorias psicológicas e pedagógicas. Ele combina princípios da Análise do Comportamento Aplicada (ABA), que enfatizam a modulação do comportamento através de reforço positivo e negativo, com abordagens de desenvolvimento que focam na importância das interações sociais e emocionais. O modelo também se baseia na motivação social, que destaca o papel da imitação e da observação no desenvolvimento das habilidades das crianças.

Para quem é indicado?

O Modelo Denver de Intervenção Precoce é voltado especialmente para crianças de 1 a 4 anos que apresentem diagnóstico ou sinais precoces de autismo. Quanto mais cedo a intervenção começar, maiores são as chances de promover avanços significativos no desenvolvimento do pequeno.

Vale destacar que o modelo também pode ser utilizado com crianças que ainda não receberam o diagnóstico formal, mas que demonstram atrasos no desenvolvimento da linguagem, dificuldades de interação social ou comportamentos repetitivos.

Objetivos do Modelo Denver de Intervenção Precoce

O principal objetivo do Modelo Denver de Intervenção Precoce é aprimorar as habilidades sociais, linguísticas, emocionais e cognitivas de crianças com TEA, facilitando sua integração social e seu desenvolvimento global. Especificamente, o modelo busca:

  • Desenvolver comunicação receptiva e expressiva

  • Melhorar as habilidades sociais e de interação

  • Desenvolver habilidades cognitivas e motoras

  • Promover comportamentos adaptativos e independência

  • À medida que as habilidades são desenvolvidas, os comportamentos interferentes são reduzidos

Como funciona o Modelo Denver de Intervenção Precoce na prática?

O trabalho com o Modelo Denver de Intervenção Precoce é estruturado com base em um currículo próprio, composto por marcos do desenvolvimento típicos para a faixa etária da criança. Os objetivos são definidos de forma individualizada, respeitando as necessidades, interesses e perfil de cada criança.

As sessões são realizadas em ambientes naturais, como a casa, a escola ou a própria clínica, e envolvem brincadeiras dirigidas, rotinas cotidianas e atividades estruturadas, sempre com foco na interação social, comunicação e desenvolvimento emocional.

Entre os princípios centrais do modelo, destacam-se:

  • Aprendizado por reforço positivo: a criança é encorajada a se engajar nas atividades por meio de estímulos prazerosos.

  • Interações sensíveis e responsivas: o profissional segue os interesses da criança, respeita suas iniciativas e responde de forma contingente às suas ações.

  • Generalização de habilidades: o aprendizado é promovido em diferentes contextos e com diferentes pessoas, o que favorece a aplicação das habilidades no dia a dia.

  • Participação da família: pais e responsáveis são parte fundamental da intervenção e são treinados para aplicar as estratégias do modelo em casa.

O que diferencia o Modelo Denver de outras abordagens?

Embora o Modelo Denver de Intervenção Precoce tenha raízes na ABA, ele se diferencia por adotar uma abordagem mais naturalista, afetiva e centrada na relação. A intervenção não acontece apenas em momentos estruturados, mas se estende para as rotinas do dia a dia da criança, promovendo aprendizagem significativa e contextualizada.

Outro ponto de destaque é o foco no desenvolvimento global da criança, não apenas na eliminação de comportamentos interferentes ou no ensino de habilidades isoladas. O Modelo Denver de Intervenção Precoce visa construir uma base sólida para o desenvolvimento emocional, social e comunicativo, que são aspectos fundamentais para a inclusão e a qualidade de vida a longo prazo.

Elementos essenciais do Modelo Denver de Intervenção Precoce

O Modelo Denver de Intervenção Precoce é composto por vários componentes-chave, que incluem:

  • Avaliação inicial: uma avaliação detalhada, realizada através do checklist curriculum,  desenvolvido especificamente dentro do Modelo Denver de Intervenção Precoce, com o objetivo de compreender as habilidades e necessidades da criança.

  • Plano de Intervenção Individualizado (PII): um plano terapêutico personalizado que define objetivos específicos e estratégias de intervenção, a partir dos resultados do checklist.

  • Sessões de intervenção: sessões estruturadas e não estruturadas que utilizam atividades lúdicas e interativas para promover o desenvolvimento de acordo com as metas do plano de objetivos.

  • Monitoramento contínuo: avaliação contínua do progresso da criança, através de coleta de dados e supervisões para ajustar as intervenções conforme necessário.

  • Envolvimento dos pais e responsáveis: treinamento presencial e suporte para os pais e responsáveis, para que possam aplicar as técnicas em casa.

Abordagens e técnicas utilizadas

As técnicas e abordagens de intervenção do modelo baseiam-se em:

  • Imitação e modelagem: as crianças aprendem observando e imitando os comportamentos dos terapeutas e dos pais e responsáveis.

  • Afeto positivo: o adulto apresenta um afeto positivo de maneira clara, genuína e natural durante as interações, correspondendo ao afeto positivo da criança.

  • Jogos e atividades lúdicas: atividades divertidas que são projetadas para promover habilidades específicas.

  • Interações sensoriais sociais: atividades diáticas entre o adulto e a criança, com troca de afetos e atos comunicativos de maneira recíproca.

  • Desenvolvimento de rotinas: criação de rotinas que ajudam as crianças a prever e entender o ambiente ao seu redor.

  • Cadeias de suporte: ajudas para garantir as respostas das crianças ao estímulo antecedente.

  • Narração: são feitos comentários, descrições e efeitos sonoros durante as brincadeiras, onde ambos os participantes são parceiros de jogo.

Benefícios do Modelo Denver de Intervenção Precoce

Entre os principais benefícios do Modelo Denver de Intervenção Precoce, destacam-se:

  • Melhora na comunicação verbal e não verbal

  • Aumento do engajamento social e do contato visual

  • Redução de comportamentos repetitivos e interferentes

  • Avanços no desenvolvimento cognitivo e acadêmico

  • Maior qualidade nas interações familiares

  • Maior independência nas atividades diárias

Além disso, por ser um modelo baseado em vínculos e na afetividade, ele contribui para o fortalecimento da relação entre a criança e seus responsáveis, o que impacta positivamente o bem-estar de toda a família.

Quem pode aplicar o Modelo Denver de Intervenção Precoce?

A aplicação do Modelo Denver de Intervenção Precoce deve ser feita por profissionais capacitados e certificados, como por exemplo psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e pedagogos. A formação específica é oferecida por instituições credenciadas, e o processo inclui treinamentos teóricos, supervisão clínica e avaliação prática.

É fundamental que os profissionais dominem tanto os princípios do desenvolvimento infantil quanto os fundamentos da ABA, além de possuírem sensibilidade para adaptar o modelo às particularidades de cada criança.

A importância da família no processo

Um dos pilares do Modelo Denver de Intervenção Precoce é a parceria com a família. Os pais e responsáveis são considerados cointerventores, ou seja, participam ativamente do processo de ensino, aprendendo estratégias que podem ser aplicadas durante as interações cotidianas, como na hora da refeição, do banho ou da brincadeira.

Essa participação ativa fortalece a relação familiar, amplia o tempo de exposição às estratégias de intervenção e torna o aprendizado mais consistente. Além disso, os pais se sentem mais confiantes e preparados para lidar com os desafios do dia a dia.

Núcleo de Autismo no Espaço CEL

No Espaço CEL, contamos com um núcleo específico de autismo, que oferece suporte completo às famílias, desde a avaliação diagnóstica até o acompanhamento terapêutico focado no desenvolvimento de habilidades essenciais para a autonomia e a inclusão da criança.

Entre os projetos desenvolvidos pelo núcleo, destaca-se o Projeto de Intervenção Precoce, que tem como uma das abordagens o modelo Denver.

Nessa abordagem, as crianças são acompanhadas por uma equipe interdisciplinar composta por profissionais das áreas de psicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, pedagogia e outras especialidades, atuando de forma integrada e personalizada.

Valorizamos a interdisciplinaridade como elemento central para garantir um olhar amplo e sensível às necessidades de cada pequeno, sempre com base em práticas fundamentadas pela ciência e com foco na qualidade de vida das famílias.

Se você deseja saber mais sobre o Modelo Denver de Intervenção Precoce ou conhecer o trabalho do nosso núcleo, estamos de portas abertas para acolher sua família. Juntos, podemos construir caminhos de desenvolvimento mais leves, afetivos e eficazes.

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